quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

DERIVA

É como estar à deriva. Não como o náufrago que encontrou uma ilha deserta, ícone clichê para reflexões filosóficas, sim como alguém preso a uma balsa, um toco flutuante de madeira, que não protege de tubarões mas salva do afogamento. Para onde? Sem sextante, sem bússola nem gps. Indo, seguindo, prosseguindo. A vida é o mar. O horizonte é o destino. A navegação porém é vaga. Devagar não se vai longe, mas mais longe para quê? A sede cede ante o sal da água sob o sol do dia, e já é noite. Sem lua, sem estrela d'alva. Céu nublado. Via láctea coalhada. Breu, limbo, navego em braille. O sentido perdeu-se na última tentativa de fazê-lo. Quem se importaria afinal com a origem, quando o rumo acaba de se dissolver. Se não há futuro, para que haveria passado? Não há lógica nem emoção. O que só permanece é a imensa e oceânica indagação. Há mar para quê?