sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Michael Lowy fala de Ecossocialismo em entrevista à Caros Amigos

POR UMA NOVO MUNDO, SEM CAPITALISMO
Escritor aborda semelhanças – e dessemelhanças – entre Marx e Weber e o ecossocialismo para conter a catástrofe humana e ambiental do capitalismo.
Por Aray Nabuco
Entrevista com MICHAEL LÖWY,cientista e escreitor radicado na França desde a década de 1960 e onde atualmente é diretor de pesquisas do Centro Nacional da Pesquisa Científica, que aborda semelhanças – e dessemelhanças – entre Marx e Weber e o ecossocialismo para conter a catástrofe humana e ambiental do capitalismo.
Entrevista na íntegra aqui .

Caros Amigos - Queria que você pontuasse onde Weber encontra Marx nessa crítica ao capitalismo. Na coisificação das pessoas, na humanização das coisas?
Michael Löwy – O Weber ao mesmo tempo em que era crítico do Marx – obviamente não tinha nada a ver nem com marxista, nem com socialista –, tem uma crítica ao capitalismo bastante radical em alguns textos. Não em todos, sobretudo em A Ética Protestante. E ele, em alguns pontos dessa crítica, vai coincidir com Marx. Por exemplo, em algumas passagens ele até diz “estou usando o conceito marxista de mais-valia”. Isso não é o mais típico. Mas há um argumento dele que também é importante em A Ética Protestante, que ele vai retomar em outros escritos, que é que o capitalismo é um sistema no qual os meios substituem os fins. Quer dizer, o dinheiro, a acumulação do dinheiro, a acumulação do capital,investimento etc., já não é um meio para a satisfação das necessidades, para o prazer, para uma finalidade. É um fim em si. Há uma inversão entre meios e fins, que é irracional. A relação natural seria: você trabalha para poder usufruir da sua vida, satisfazer suas necessidades. Tudo é em função do capital, dessa acumulação. O meio virou o fim. Engraçado que o Weber tem uma conferência sobre o socialismo, que é uma conferência contra o socialismo, dada para um grupo de oficiais do exército austríaco. Então, completamente crítico do socialismo. Mas ele diz: “a verdade é que o capitalismo é um sistema que converte, transforma, substitui os meios pelos fins”. E isso é o que os socialistas dizem. Então, em algum momento chave, apesar da grande referência contra o socialismo, nesse aspecto, o argumento dele acaba coincidindo com os socialistas. Então, um pouco tem a ver com essa questão da reificação. O que predomina já não é a dimensão humana. É o capital, é a indústria, é a produção, isso que é importante. O ser humano, os seus governos, a felicidade, não importam. Agora, outras críticas do Weber são no mínimo contraditórias, mas são diferentes do argumento marxista. São complementares, eu diria. E é o caso dessa ideia de A Jaula de Aço. Que também de certa maneira está presente em Marx. O capitalismo é um sistema total, que determina totalmente a vida das pessoas. Não só as que trabalham no sistema,  mas todo mundo tem o seu destino determinado pela lógica do sistema capitalista. Então, estamos todos encerrados numa jaula de aço, sem saída.
É daí que vem a ideia da jaula de aço?
Exatamente. Aliás, a expressão exata é “habitáculo duro como aço”. Foi traduzido para o inglês como “Jaula de Aço” (Iron Cage), e a expressão pegou. Tem uma outra frase que o Weber usa que é “o capitalismo é uma escravidão sem mestre”. Quer dizer, uma escravidão impessoal. São escravizados não por outro indivíduo, mas por um sistema anônimo. As leis da economia, competição, competitividade, essas coisas impessoais. Então, são argumentos duros contra o capitalismo de alguém que não era um anticapitalista. Ele achava que o capitalismo era o sistema mais racional possível, muito superior a todos os anteriores e, sobretudo, achava que não tinha alternativa. Ele achava que o socialismo era uma ilusão. Então, a grande diferença dele para o Marx é essa. O Weber é um pessimista resignado, enquanto Marx é um otimista revolucionário, aposta na possibilidade de uma alternativa ao capitalismo. Mas no diagnóstico, o que o capitalismo faz aos indivíduos, há muita proximidade, muita afinidade, às vezes, certa complementaridade

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