Em palestra pelo
Dia da Sobrecarga da Terra, o jornalista
e ambientalista André Trigueiro criticou a organização dos Jogos
Olímpicos por não ter calculado o custo
ambiental ou a Pegada Ecológica do evento.
Hoje foi o Dia da Sobrecarga
da Terra (Overshoot Day, em inglês). Para explicar o termo e falar sobre o
tema, o jornalista e ambientalista André Trigueiro fez a palestra – Consumo
Sustentável, uma questão de sobrevivência – para um grupo de 50 pessoas na
tarde desta segunda-feira, no Observatório do Amanhã, um mini-auditório do
Museu do Amanhã, na Praça Mauá.
A expressão “Sobrecarga da
Terra” refere-se à quantidade de recursos que são consumidos no Planeta durante
o ano. Para que a situação fosse sustentável, seria necessário que os recursos
durassem até o ultimo dia de dezembro, mas eles chegaram ao fim hoje. Em outras
palavras, é como se a humanidade dispusesse de, por exemplo, X toneladas de
alimentos para consumir até 31 de dezembro de 2016 e constatasse hoje que a
dispensa está vazia. Ou seja, de amanhã em diante, estará havendo sobrecarga.
O cálculo é feito com base
na metodologia que calcula a Pegada Ecológica. Criada pela Global Footprint
Network ela propõe um longo questionário que abastece um software. As perguntas
são sobre o que cada um come todos os dias, como se locomove e o que possui,
entre outras coisas. Com as respostas fornecidas é calculado o tanto de
hectares do planeta necessários para abastecer a demanda de um indivíduo, de
uma família, de uma cidade, um país ou de toda a humanidade.
Segundo André Trigueiro, o
IBOPE e o WWF fizeram uma pesquisa sobre a pegada ecológica dos brasileiros em
2008. A constatação foi que para atender de maneira sustentável a demanda por
consumo das classes A e B, seriam necessários três planetas Terra. Trigueiro
acredita que o problema não é o consumo em si, mas o consumismo. Ele acrescenta
que faltam informações às pessoas que se entregam ao exagero do consumo, pois
elas não sabem que a voracidade delas tem um preço pago pela natureza. Isto é,
cada coisa que elas compram corresponde a um pedaço retirado dos recursos
naturais disponíveis.
O ambientalista aproveitou
para criticar a organização dos Jogos Olímpicos do Rio que, em momento algum,
avaliou a Pegada Ecológica que um evento de tamanha proporção teria. O certo,
diz ele, seria calcular a pegada e repor antecipadamente o que previsivelmente
seria consumido.
A situação se agrava quando
se leva em conta a condição da própria cidade do Rio, comparada a Tóquio, no
Japão, devido à dependência de outras cidades. Conforme explica André
Trigueiro, os alimentos vêm de fora, a água vem do Rio Guandu, que por sua vez
é abastecido pelo Paraíba do Sul; o lixo é descartado em Seropédica, tudo isso
só faz aumentar a Pegada Ecológica do Rio, dos cariocas e, em ocasiões como
esta, dos milhares de visitantes da cidade que também querem consumir o que
houver de melhor.
Numa demonstração de
otimismo, o palestrante lembra que houve época em que as pessoas fumavam
cigarros até dentro de aviões, assim como houve época em que as pessoas não
limpavam o cocô de seus cachorros quando os levavam para passear e todo mundo
quando ia ao supermercado fazia questão das sacolas de plástico. Hoje, tudo
isso mudou, não por causa da lei ou de repressão, mas devido à consciência, aos
valores introjetados, portanto à cultura. É sobre isso que André Trigueiro fala
no video anexo.
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